Meio ambiente

Visual Journalism Team at Deutsche Welle

published 28.01.2020

As cidades de África estão a crescer. Mas vão ser as mais afetadas pelas alterações climáticas. A DW falou com 30 africanos, incluindo catadores de lixo informais e cientistas climáticos da ONU, para perceber como é que quatro grandes cidades estão a adaptar-se: Lagos a ondas de calor abrasadoras, Kampala a cada vez mais lixo, Cairo às secas iminentes e Dar es Salaam aos congestionamentos de trânsito.

Hilda Nakabuye, de 22 anos, faltou às aulas para enviar uma mensagem aos líderes de algumas das cidades mais poderosas do mundo e pediu aos autarcas que mostrassem solidariedade para com os jovens que lutam pelo planeta.

"Sou vítima dessa crise climática e não tenho vergonha de dizer isso", disse Nakabuye, estudante de uma zona rural do Uganda que agora vive em Kampala, numa conferência sobre o clima, em outubro. Com a voz embargada e os olhos cheios de lágrimas, Hilda contou que a sua família vendeu as suas terras e gado após as chuvas e ventos fortes que destruíram as lavouras e a estiagem que secou os poços. "Quando o dinheiro acabou, era uma questão de sobrevivência ou morte."

Os autarcas levantaram-se.

Nakabuye, que começou a fazer campanha pelo meio ambiente em 2017, é apenas uma de milhares de jovens africanos que saíram às ruas exigindo que os Governos ajam - urgentemente - contra o aquecimento global.

A população urbana de África deve duplicar até 2050 e os seus cidadãos, três quartos dos quais com menos de 35 anos, estão a preparar-se para um futuro de calor intenso - em que a água será mais escassa, o ar mais sujo e as inundações mais fortes e frequentes.

Hilda Nakabuye aderiu ao movimento global promovido pela ativista Greta Thunberg após dois anos de luta pelo meio ambiente.

© Foto: Emmanuel Balemezi

Muitos já estão a sentir esses efeitos. Dois em cada três africanos que já ouviram falar das alterações climáticas dizem que elas estão a piorar a qualidade de vida nos seus países, segundo uma pesquisa pan-africana realizada pelo Afrobarómetro, que ouviu 45 mil pessoas. Cerca de metade diz ter visto os fenómenos meteorológicos extremos tornarem-se mais severos na última década.

"Tenho sorte de ainda sobreviver", disse Nakabuye, no Fórum Mundial de Autarcas. "Não posso desvalorizar isto, porque há pessoas a morrer todos os dias."

No entanto, à medida que a crise climática acelera em todo o planeta, são as cidades de África que correm o maior risco. Veja a comparação com outras cidades do mundo.

Crescimento populacional das cidades africanas

Cada ponto representa uma grande cidade do mundo. As cidades mais próximas do topo estão mais vulneráveis às mudanças climáticas.

Quanto maior a bolha, mais pessoas vivem numa cidade.

As cidades da direita estão a crescer muito mais rápido do que as da esquerda. As cidades de rápido crescimento são as mais suscetíveis às alterações climáticas.

Essas cidades estão maioritariamente em África. As maiores (Lagos e Cairo) e as de crescimento mais rápido (Dar es Salaam e Kampala) enfrentam desafios ambientais.

As alterações climáticas vão dificultar as suas batalhas contra o calor, a seca, o lixo e a poluição.

Três das maiores cidades do mundo estão em África. As populações de Lagos, Cairo e Kinshasa já ultrapassaram os 10 milhões de habitantes. Luanda e Dar es Salaam vão juntar-se a estas cidades na próxima década. Cidades como Kampala, Bamako e Ouagadougou - cujas populações estão na casa dos milhões - são algumas das que mais crescem no mundo.

Nesse cenário, o clima está a deteriorar-se, tornando-se cada vez mais extremo. E à medida que mais pessoas migram para as cidades em busca de prosperidade e a infraestrutura luta para acompanhar este ritmo, os cidadãos também são afetados pelo excesso de lixo e pelo trânsito intenso.

Ampliadas pela urbanização, as alterações climáticas em África são um "mega esforço e mega desafio", diz Maimunah Mohd Sharif, diretor-executivo da ONU Habitat, o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos. "Temos realmente de mudar agora. Caso contrário, acho que não temos futuro".

Palha a arder a norte do Cairo, sufocando a cidade poluída com fumo.

© Foto: AFP/Getty Images | Khaled Desouki

O ciclone Idai devastou Moçambique e outros países do sudeste africano em março com chuvas e inundações.

© Foto: picture alliance / AA | Gokhan Balci

A subida do nível da água do mar e a precariedade das habitações ameaçam os bairros informais em Lagos.

© Foto: AFP/Getty Images | Stefan Heunis

Mas as cidades estão a responder.

"Não queremos repetir a lengalenga de que África é a mais vulnerável aos impactos adversos das alterações climáticas", diz Anthony Nyong, diretor do departamento de Alterações Climáticas do Banco Africano de Desenvolvimento. "[Isso] é verdade, mas também sabemos que África tem oportunidades que pode explorar para traçar um caminho de desenvolvimento de baixo carbono e resiliente ao clima".

À medida que o meio ambiente entra em colapso e as populações aumentam, como é que as maiores cidades e as que crescem mais rápido em África estão a adaptar-se?

Fugir do calor em
Lagos
Nigéria

As temperaturas em Lagos estão a aumentar - a grande velocidade.

13 milhões de pessoas vivem na metrópole nigeriana, segundo a ONU, mas as estimativas do Governo apontam para 20 milhões, dependendo de onde os limites da cidade são traçados. Até ao final do século, cientistas estimam que Lagos terá mais pessoas expostas ao calor extremo do que qualquer outra cidade de África. As alterações climáticas vão tornar as ondas de calor em Lagos mais longas, mais fortes e mais comuns.

O clima mais quente pode exacerbar alguns problemas de saúde mental e tornar até as tarefas mais banais - como caminhar para o trabalho ou ir para a cama - mais difíceis.

As ondas de calor atingem mais as crianças, os idosos e os doentes. Mas jovens adultos que trabalham ao ar livre, como construtores e pescadores, também estão em risco. O clima extremamente quente pode agravar as doenças cardíacas, pulmonares e renais. Na pior das hipóteses, pode matar.

Veja como as altas temperaturas deverão aumentar.

Ondas de calor em Lagos, Nigéria

O verão em Lagos vai de dezembro a abril. As linhas mais escuras são os meses com o maior número de dias quentes.

Os modelos climáticos preveem invernos mais quentes e verões cada vez mais quentes dentro de 30 anos.

Mas a humidade no ar significa que as pessoas sentem mais calor do que os termómetros registam.

A humidade no ar impede o suor de evaporar e refrescar o corpo, enfraquecendo esta resposta humana básica ao calor.

O ar mais quente retém mais vapor de água e, à medida que a temperatura aumenta, aumenta também a humidade. Isto pode significar meses de verão em que a maioria dos dias terá uma sensação térmica superior a 31 graus.

Construída sobre uma lagoa e refrescada por uma brisa do Atlântico, Lagos deveria ter temperaturas mais baixas do que o resto da Nigéria. Mas um efeito de 'ilha de calor urbano' contraria as expectativas. As cidades tendem a ser mais quentes do que as zonas rurais em redor, porque as infraestruturas, como edifícios de betão e estradas de alcatrão, absorvem o calor gerado pela agitação da atividade humana - cozinhar, conduzir, a indústria - e libertam-no constantemente durante a noite. Isto pode significar temperaturas mais de 7 graus mais quentes em Lagos do que nas áreas rurais em redor.

E as pessoas nos bairros de lata sentem ainda mais esse calor.

As habitações precárias pioram o stress térmico. Construídas com telhados de chapa e paredes de painéis de plástico, as casas improvisadas assemelham-se a fornos, retendo o calor sob a luz do sol ardente. Em cidades como Kinshasa, na República Democrática do Congo, e Bamako, no Mali - onde mais da metade da população vive em assentamentos informais - a aglomeração de moradias deixa pouco espaço para o vento passar.

Moses Anjola, um blogger de Lagos, vive numa pequena estrutura feita de tábuas de madeira, lona, nylon e cartão.

Como muitos na cidade, Anjola desconfia dos esforços do Governo para desenvolver os assentamentos informais. Já foi expulso de um bairro de lata e teve de dormir em tábuas de madeira, à chuva, até arranjar alguns materiais para improvisar um pequeno abrigo.

Anjola não está sozinho. As autoridades deixaram 30 mil desalojados e 11 mortos quando destruíram bairros de lata à beira-mar em 2016 e 2017, de acordo com um relatório da Amnistia Internacional, numa série de despejos em massa devido a preocupações ambientais e de segurança.

Atormentados por demolições, e sob risco de stress térmico por sobrelotação e habitação precária, moradores dos bairros de lata, como Anjola, têm poucas opções para escapar às temperaturas escaldantes. Na maioria, são mal pagos e não podem comprar um ar condicionado ou um frigorífico. Sem água potável, é mais provável que tenham de recorrer a fontes poluídas para se manterem hidratados.

Alguns ainda procuram a sombra das árvores, mas muitos moradores estão a derrubá-las para conseguir lenha e material de construção.

A comunidade pesqueira de Otodo Gbame foi demolida em 2016.

© Foto: AFP/Getty Images | Pius Utomi Ekpei

Em todo o continente africano, países e cidades estão a plantar árvores para combater as alterações climáticas. A Etiópia foi notícia em agosto, depois de plantar 350 milhões de árvores em meio dia. A União Africana liderou um projeto para plantar uma parede verde de árvores no deserto do Saara. E, para combater o efeito das ilhas de calor urbano, Lagos prometeu plantar 10 milhões de árvores até 2020.

A Agência de Proteção Ambiental do Estado de Lagos diz que as autoridades criminalizaram o corte indiscriminado de árvores e que já foram plantadas 8 milhões das árvores prometidas.

Mas alguns moradores de Lagos já sofrem com dias mais quentes e noites em claro e recusam ficar parados, à espera que as árvores cresçam. Por isso, estão a arregaçar as mangas para escapar às ondas de calor.

Papa Omotayo, arquiteto e membro fundador da Aliança Africana para Novo Design, está a construir um centro de treino para crianças em risco em Gbagada, um subúrbio de Lagos. Segundo o arquiteto, tijolos de terra, um telhado em forma de asa e isolamento de poliestireno mantêm as temperaturas e os custos baixos e evitam a necessidade de ar condicionado.

As técnicas usadas no fabrico dos tijolos e na ventilação do centro baseiam-se nas tradições arquitetónicas nigerianas, diz Omotayo.

"O arrefecimento passivo usado por Omotayo é uma forma de design que desvia a energia térmica que se acumula nos prédios em "dissipadores de calor". Pode significar escavar buracos fundos no solo ou usar o formato da própria estrutura para desviar as correntes de ar. Os edifícios feitos de terra batida - uma mistura de argilas locais, areia e solos comprimidos - regulam a temperatura, aquecendo lentamente durante o dia e libertando energia durante a noite.

O regresso às técnicas tradicionais para o arrefecimento passivo dos edifícios reflete uma tendência mais ampla que se faz sentir na África Ocidental, do Níger ao Burkina Faso.

Uma boa arquitetura é feita localmente e não importada de cidades como Nova Iorque e Dubai, diz Christian Benimana, arquiteto e fundador do Centro de Design Africano. "Infelizmente, o pensamento geral em torno da resposta ao rápido crescimento das cidades em África tende a centrar-se mais nessas últimas".

O problema do lixo em
Kampala
Uganda

Os responsáveis pelo planeamento não conseguem acompanhar o ritmo da cidade que cresce mais rápido em África, atualmente com 3 milhões de habitantes.

As crianças que nascem hoje em Kampala vão ver a cidade duplicar quando completarem 13 anos.

E mais gente significa mais lixo.

Numa cidade em que 60% das pessoas vivem em assentamentos informais, com fracas infraestruturas, os moradores têm poucas opções para descartarem lixo e esgotos. "Muitas casas também não têm pontos de recolha de lixo, e algumas não têm condições para nos pagar ou pagar às empresas para recolher os resíduos", diz Majid Muganzi, ex-funcionário de um camião de recolha de lixo e atualmente cantoneiro por conta própria. "Eles esperam à noite, quando está escuro, e deixam o lixo na beira da estrada e, às vezes, nos canais de drenagem".

Kampala recolhe entre metade e dois terços dos resíduos que cria e transporta-os para o único aterro legal da cidade: Kiteezi. Ocupando uma área de 14,5 hectares, as montanhas de resíduos de Kiteezi crescem entre 1.000 e 1.400 toneladas por dia. A Autoridade do Conselho da Cidade de Kampala (KCCA) diz que o aterro a transbordar deveria ter sido encerrado há uma década.

Mas, para alguns em Kampala, a lixeira é uma tábua de salvação.

"Algumas pessoas pensam que este lugar é só lixo, mas isso não é verdade", diz Veronica Namuddu.

Namuddu começou a apanhar lixo em Kiteezi, depois de anos à procura de emprego. Ganha cerca de quatro dólares por dia a vender o que encontra - principalmente plástico - a revendedores.

"Uma pessoa pode sair de casa sem nada e, com este lixo, ganha dinheiro e compra alguma coisa para os filhos comerem".

Kirumira Amon, que ganha até 22 dólares num dia bom e cuida de 12 irmãos, compra a catadores de lixo como Namuddu e vende a comerciantes e empresas de reciclagem.

"Não posso voltar à escola, porque tenho muitas responsabilidades e muitas pessoas ao meu cuidado".

"A vida não tem sido fácil, mas tenho de sobreviver e preciso de trabalhar."

A lixeira de Kiteezi está num cruzamento perigoso entre urbanização e alterações climáticas.

À medida que Kampala cresce e os moradores mais pobres se estabelecem em zonas pantanosas nas bases das colinas, a cidade perde os sistemas de drenagem naturais que costumavam absorver a chuva. O Banco Mundial estima que a área pantanosa de Kampala caiu de 18% para 9% entre 2002 e 2010, deixando a água com menos lugares para escoar.

Mas os resíduos armazenados em aterros a céu aberto ou deixados no chão também representam uma ameaça à drenagem, pois podem facilmente entupir e bloquear correntes e canais. Durante tempestades, água que poderia ter sido drenada inundou os assentamentos informais da cidade.

E as alterações climáticas significam que as chuvas fortes serão mais severas.

Esta combinação de resíduos, habitações precárias e tempestades mais fortes deixará os moradores mais pobres de Kampala cada vez mais expostos a inundações repentinas durante a época das chuvas, correndo o risco de cólera e diarreia. "A mistura do lixo com a água que a população está a consumir definitivamente aumenta as probabilidades de doenças transmitidas pela água", diz Phoebe Shikuku, especialista em meio ambiente da Federação Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. "É um ciclo em que uma vulnerabilidade leva a outro impacto e a outra vulnerabilidade".

A lixeira de Kiteezi não é segura.

© Foto: Edward Echwalu

Para recolher o lixo que a cidade gera atualmente, a KCCA diz que precisa de 65 camiões - mas só tem 14 em condições operacionais e seis mais antigos que, às vezes, se juntam à frota. A KCCA conta com empresas privadas que ajudam na recolha e transporte de resíduos para Kiteezi.

Mas alguns residentes nos distritos mais pobres não podem pagar as taxas cobradas por essas empresas. "Muitas famílias lutam para pagar coisas básicas, como comida e abrigo", diz Muganzi. "O lixo é a última coisa em que elas conseguem pensar".

Por esse motivo, empresas privadas são incentivadas a recolher lixo em bairros mais ricos, enquanto os camiões da KCCA lutam para recolher o resto. E a situação piora à medida que Kampala e os seus resíduos crescem.

Enquanto as autoridades tentam resolver o problema, trabalhadores informais de Kiteezi, como a catadora de lixo Namuddu e o revendedor Amon, ajudam a manter a cidade limpa.

"A contribuição ambiental desses catadores informais é enorme", diz David Dodman, diretor de assentamentos humanos no Instituto Internacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento. "Eles garantem que as coisas que podem ser reutilizadas são reutilizadas e as que podem ser recicladas são recicladas".

O plástico com o qual ganham a maior parte do dinheiro é apenas uma fração do lixo despejado nas montanhas de Kiteezi. O Uganda é um dos 34 países africanos que proibiram ou tributaram plásticos descartáveis, embora essas regras nem sempre sejam aplicadas. Mais premente é o lixo orgânico, como restos de alimentos e esgotos.

Numa pequena escala, os empreendedores ugandeses aproveitaram-se disso. Algumas empresas de Kampala recolhem, secam e compactam resíduos orgânicos - de Kiteezi, bairros locais ou diretamente de empresas - em pequenos blocos de combustível sólido que podem ser queimados, substituindo carvão e lenha. Outros estão a tentar recuperar nutrientes, compostando o lixo para fertilizante. Em 2017, uma empresa de tecnologia do Uganda criou uma aplicação chamada Yo Waste para ligar os trabalhadores que recolhem lixo aos clientes. A aplicação espera ser o "Uber para resíduos" e diz que trabalha apenas com transportadores que reciclam.

Camiões do lixo esforçam-se para recolher os resíduos de Kampala.

© Foto: Edward Echwalu

As autoridades fizeram progressos, mas não são suficientes, diz Najib Bateganya, um responsável ambiental da KCCA. Entre 2011 e 2017, a KCCA diz que duplicou a percentagem de resíduos de Kampala que recolheu, elevando o total para 64%.

"Eles ainda estão muito animados com as soluções de engenharia para o lixo", diz Shuaib Lwasa, professor associado de adaptação às alterações climáticas na Universidade Makerere. "Adquirir mais camiões, mais subsídios, obter mais apoio, aterros sanitários. Se 88% dos resíduos fossem orgânicos - citando o número deles - definitivamente criar-se-ia um sistema para transformá-los em nutrientes e energia".

Mas a KCCA diz que educa os cidadãos para reduzir a descarga de lixo na rua e incentiva o uso de contetores privados e, para aliviar a pressão sobre Kiteezi, adquiriu um local para reciclar resíduos e recuperar nutrientes e energia.

Mesmo assim, diz Bateganya, a KCCA não tem dinheiro para instalações modernas de tratamento de resíduos e as empresas privadas não investem, porque a reciclagem dá pouco lucro. "Os resíduos são uma questão de desenvolvimento, tal como a saúde ou a educação, não são apenas um negócio. Se encaramos como um negócio, torna-se caro para as pessoas e não vai funcionar".

A escassez de água no
Cairo
Egito

Quando a seca atingiu o Levante, há 3.200 anos - contribuindo para a fome, o deslocamento e a guerra -, o Egito enviou grão a ex-inimigos e criou gado forte, resistente ao calor. As ações dos faraós não foram suficientes para impedir a queda dos impérios locais, mas os arqueólogos dizem que as suas políticas ajudaram a prolongar a vida do Egito Antigo.

Hoje, o país do norte de África está novamente a lutar para se adaptar à falta de água.

É no Egito que corre grande parte do Nilo, o rio mais longo de África, em cujas margens férteis nasceram algumas das primeiras cidades do mundo. 45 das 50 cidades mais densas de África estão no Nilo egípcio, segundo dados da plataforma de pesquisa Africapolis. Há milénios que os egípcios contam com o Nilo para beber e cultivar.

Mas as suas águas vêm de fontes sobre as quais o Egito tem pouco controlo.

Barragem de água do rio Nilo

O Egito é o país mais a jusante do Nilo.

O Nilo Azul, que começa na Etiópia, e o Nilo Branco, que flui da região africana dos Grandes Lagos, juntam-se em Cartum, no Sudão, antes de confluírem no Egito.

A 1.200 km do Egito, a Etiópia está a construir aquela que deverá ser a maior fonte de energia hidroelétrica de África: a Grande Barragem do Renascimento Etíope (DRGE).

À medida que o reservatório da DRGE se enche, pode reduzir até 25% o fornecimento de água do Nilo, segundo um estudo da Universidade de Maryland em 2017.

É difícil encontrar água no Egito, que recebe pouca chuva e é, na maioria, deserto. Já abaixo do limiar da ONU para a pobreza de água e a caminho da "escassez absoluta de água", o Egito tem uma das médias mais baixas de acesso à água por pessoa em África.

Em anos quentes e secos, com pouca chuva rio acima, os efeitos da DRGE no Nilo podem ser catastróficos.

O Egito diz que a DRGE vai limitar a água para a sua crescente população, que, com quase 100 milhões de pessoas, é a terceira maior de África, atrás da Nigéria e da Etiópia. O Egito e a Etiópia ainda não chegaram a acordo sobre a quantidade de água que vai entrar para encher a barragem, e nem por quanto tempo. Discussões acirradas sobre o direito à água entre o Egito, o Sudão e a Etiópia ameaçaram resultar em guerra, em outubro.

Mesmo que reduza o fluxo de água, a barragem poderia ajudar a segurança hídrica a longo prazo, armazenando água em anos chuvosos e libertando-a em anos mais secos, se os países concordarem em partilhá-la de forma justa.

No entanto, as alterações climáticas, que devem aumentar a evaporação e tornar os padrões de chuva mais irregulares, deixarão menos para partilhar.

As cidades do Egito contam com a água do Nilo há milénios.

© Foto: picture allience/AP Photo | Amr Nabil

No Grande Cairo - uma metrópole de 20 milhões de pessoas com previsão de crescimento de mais 9 milhões até 2035 - o crescimento populacional vai dificultar ainda mais o acesso à água na cidade.

Moradores de subúrbios mais pobres já sofrem com a escassez de água.

Suzan Ghany, jornalista freelancer, vive em Kafr Tuhurumis, em Giza, uma cidade no Grande Cairo. O dia-a-dia é complicado, com um sistema de abastecimento de água que funciona apenas durante sete horas, desde o início da manhã, e cortes totais que chegam a durar semanas.

"Com fornecimento de água, sou uma pessoa normal".

"Quando se trata de um corte total, ficas acordado, à espera de que o serviço seja retomado. E depois, tens de ser rápido, porque não tens a certeza se funciona [apenas] por duas ou três horas ... Não sabes nada".

"És forçado a reorganizar o teu dia, a ficar acordado a noite toda, e a ver se precisas de lavar panos, pratos e limpar o chão".

"Não existe uma regra para o serviço [de água], depende da tua própria sorte. Às vezes, funciona por dois dias seguidos, depois disso, pode ser encerrado por duas semanas seguidas".

"Quando a água volta, enches garrafas, panelas, qualquer coisa que possas encontrar", diz Ghany, que passa horas a encher garrafas para usar mais tarde. Filtra a água para cozinhar e beber e usa água não filtrada para limpar, lavar a loiça e na casa de banho.

Em Kafr Tuhurmis, 786 famílias nem sequer estão ligadas à rede pública de abastecimento de água, segundo dados oficiais. Dependem principalmente de água engarrafada, poços e bombas. Tanto os cidadãos que têm acesso à rede - como Ghany - como os que não têm, estão a resolver os problemas com as suas próprias mãos.

A maioria dos moradores cavou poços à procura de águas subterrâneas e usa bombas a motor para compensar a baixa pressão da canalização, diz Ghany. Mas, no seu prédio, conta Ghany, a água não era adequada para consumo humano. Águas residuais industriais e escoamento agrícola afetam o Nilo, com fábricas e propriedades rurais a descarregar substâncias poluentes que prejudicam o rio e as águas subterrâneas. "Podes dizer que [cavar poços] é uma solução, mas, ao mesmo tempo, não é. Tens água o tempo todo, mas é água poluída".

Algumas casas em Kafr Tuhurmis não estão ligadas à rede de água. Foto: Hazem Abdul Hameed

© Foto: Hazem Abdul Hameed

A casa de Suzan Ghany está ligada, mas só tem água sete horas por dia. Foto: Hazem Abdul Hameed

© Foto: Hazem Abdul Hameed

Ela adapta a sua rotina diária ao abastecimento de água.

© Foto: Hazem Abdul Hameed

Em outubro, o Ministério de Recursos Hídricos e Irrigação do Egito acolheu a Semana da Água do Cairo, uma conferência internacional em resposta à escassez de água. O Governo egípcio está a centrar os esforços em infraestrutura, agricultores e famílias.

"O Egito melhorou bastante nos últimos anos em relação à escassez", diz Helmy Abouleish, diretor da SEKEM, uma organização agrícola e de investigação que investe em agricultura sustentável e que converteu deserto perto do Cairo em oásis férteis. "Pela primeira vez, o Governo está a abordar de forma séria essa questão em público".

As autoridades egípcias estão a construir estações de tratamento de esgotos para reciclar água e centrais de dessalinização para remover o sal das águas subterrâneas salobras e do mar. No Cairo, estão a instalar torneiras que economizam água em espaços públicos, edifícios do Governo e até mesquitas, onde os rituais de lavagem acontecem várias vezes por dia.

Também estão a tentar consertar fugas nas canalizações e torneiras ineficientes.

As ondas de calor no Cairo agravam a escassez de água.

© Photo: imagoZUMA Press

Mas distribuir a água de maneira justa é tão importante como reduzir o desperdício, diz Harry Verhoeven, um investigador a viver no Qatar que escreveu um livro sobre a política do Nilo. O Egito depende do rio para 97% das suas necessidades de água. "O que este número não mostra, obviamente, é a forma como essa água é distribuída internamente".

80% da água do Egito é usada na agricultura, com práticas ineficientes, como a rega por inundação, que agrava a escassez, bem como culturas que exigem muita água, como arroz, trigo e tomate. Apesar da preocupante escassez de água, o Egito era um grande exportador de arroz até 2016. Depois, proibiu intermitentemente as exportações. Os dados oficiais não estão disponíveis ao público, mas um relatório de 2018 da Transparência Internacional constatou que o Exército egípcio tem "poder incomparável sobre terras públicas" e é proprietário - através de uma agência - de uma das principais empresas de água e agricultura do país.

"Enquanto as pessoas não estiverem dispostas a falar sobre questões de distribuição - e a forma como as questões hídricas e ambientais estão mais amplamente ligadas ao poder político - [será] muito difícil progredir", disse Verhoeven.

Vencer
o trânsito em
Dar es Salaam
Tanzânia

Numa das maiores cidades de África e de crescimento mais rápido do continente, as deslocações não são propriamente fáceis.

Algumas pessoas passam horas em estradas congestionadas todos os dias.

Mas outros estão a vencer o trânsito.

Com seis milhões de pessoas e a crescer a uma velocidade vertiginosa, Dar es Salaam expandiu-se - de forma desordenada.

Sete estradas principais ligam os habitantes que vivem nos arredores de Dar aos empregos e serviços no centro da cidade. A falta de transporte público não deixa muita opção para quem tem de se deslocar: restam os carros particulares e os milhares de “daladalas” - mini-autocarros informais - que sobrecarregam as estradas.

Presos em engarrafamentos, carros e daladalas enchem as ruas de Dar es Salaam com fumos que tornam o ar tóxico para respirar. Muitos dos veículos são usados e estão em más condições.

Salum Iddi, um operário que trabalha em Dar, lembra-se de viagens lentas e apertadas quando ia para a cidade em daladalas. "O que me irritava era o facto de, tanto na ida como na volta do trabalho, ficar na estrada por muitas horas - três, quatro horas - por causa dos engarrafamentos."

Entretanto, o congestionamento de Dar es Salaam é uma questão de segurança e também de clima.

Em 2016, após mais de uma década de planeamento, Dar es Salaam começou a operar uma moderna rede de transportes. Em vez de investir num sistema subterrâneo de metro ou de comboios, como grandes cidades da Europa e da América do Norte, os engenheiros de Dar es Salaam adotaram uma abordagem mais simples: os autocarros.

Mais barato e mais fácil de construir do que o ferroviário, o transporte rápido de autocarros (Bus Rapid Transport – BRT, em inglês) tem capacidade para transportar um grande número de pessoas em cidades com poucos recursos ou acesso a financiamentos. O sistema tem faixas a separar os autocarros dos carros e daladalas. Cerca de 170 cidades do mundo operam sistemas de BRT e, em África, há 20 em várias etapas de desenvolvimento.

Em Dar es Salaam, o Banco Mundial e o Banco Africano de Desenvolvimento ajudaram o Governo da Tanzânia a financiar um sistema de BRT conhecido como DART. A primeira das suas seis fases planeadas começou a funcionar em 2016.

Mapa do sistema de transporte rápido de autocarros da Tanzânia

Algumas das principais estradas de Dar es Salaam têm velocidades médias inferiores a 10 quilómetros por hora - tão lentas como alguém a correr.

Depois de concluído, o DART vai ligar a periferia de Dar es Salaam ao centro da cidade.

Estendendo-se por 21km ao longo de estradas movimentadas, a primeira fase do DART reduziu para metade as deslocações de alguns dos seus 200 mil usuários.

Ao tirar algumas “daladalas” e carros particulares da estrada, o DART também reduz o congestionamento. Especialistas dizem que a diminuição do trânsito reduziu visivelmente a poluição.

"Os veículos mais velhos que o BRT substituiu em Dar es Salaam eram autocarros muito poluentes", diz Chris Kost, diretor de programas de África no Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento, envolvido na construção do DART. "O sistema BRT foi capaz de substituir 3.000 desses veículos por 140 ... [diferentes] veículos com emissões muito mais baixas".

Para Iddi e outros, o tempo que poupam no trânsito significa mais tempo com a família.

Mas o DART não está disponível para todos.

Embora a Tanzânia tenha gozado de um crescimento económico elevado e constante na última década, metade dos tanzanianos vivem com menos de dois dólares por dia, segundo os dados mais recentes do Banco Mundial. Os bilhetes de BRT custam cerca de 0,28 dólares nas estradas principais, enquanto uma viagem de “daladala” pela mesma via não chegaria aos 0,22 dólares, dizem especialistas.

Uma análise do Banco Mundial em 2018 descreveu "problemas iniciais", incluindo longas filas e desconforto dos passageiros. "Foi impressionante", diz Ronald Lwakatare, diretor-executivo do DART.

Mais preocupante, para alguns residentes, é o impacto que os ganhos ambientais tiveram nos empregos. Apesar das cláusulas para treinar alguns motoristas de daladala, o DART deixou muitos sem negócio. Um sistema semelhante em Acra, no Gana, levou a confrontos com motoristas de mini-autocarros informais que contribuíram para o número cada vez menor de passageiros e autocarros parados.

Especialistas dizem que trabalhar com os funcionários dos transportes e a sua inclusão no planeamento é essencial para fazer os sistemas de BRT funcionarem.

"Não se pode dizer que o BRT é totalmente negativo ou totalmente positivo", diz Nathalie Jean-Baptiste, arquiteta e fundadora do CityLab Dar es Salaam, uma plataforma de pesquisa que visa desenvolver de forma sustentável cidades africanas. "Mudou a maneira como o transporte funciona em Dar... Há sempre mudanças, algum tipo de stress, mas os utilizadores adaptam-se”.

Conseguirão as
cidade africanas
adaptar-se às alterações climáticas?

Obras em Kigali. A capital do Ruanda já recebeu o título de "cidade mais limpa do planeta".

© Foto: imagoZUMA Press

O tempo está a esgotar-se. As temperaturas aumentaram cerca de 1 grau Celsius desde a Revolução Industrial e os líderes mundiais comprometeram-se a limitar o aumento a bem menos de 2 graus. Se os seres humanos continuarem a emitir gases de efeito estufa para a atmosfera ao ritmo atual, as temperaturas aumentarão cerca de 3 graus até ao final do século.

Quanto mais o planeta aquece, mais as cidades africanas sofrem. Um aquecimento maior poderia pôr em causa quantas árvores Lagos tem de plantar na cidade e quanto o Cairo tem de investir na dessalinização da água do mar. O aumento da força das tempestades poderia - através de inundações - paralisar a frota de autocarros de Dar es Salaam com regularidade suficiente para não haver lucros, e superar os esforços de Kampala para limpar os resíduos que entopem os esgotos.

Não existe um botão para ligar e desligar a crise climática.

Para limitar os seus efeitos, cientistas dizem que os líderes mundiais devem reduzir as emissões de gás de efeito estufa - e isso inclui as emissões urbanas. 100 cidades geram 18% das emissões globais de CO2, mostrou um estudo sobre as pegadas de carbono de 13 mil cidades em 2018. E aquelas com as maiores emissões por pessoa estão desproporcionalmente na América do Norte, Médio Oriente e Austrália.

Cidades de Vulnerabilidade Climática

As cidades africanas são mais vulneráveis às mudanças climáticas, mas as menos responsáveis por elas.

Três quartos das cidades que enfrentam baixa vulnerabilidade climática estão nos grandes países emissores da Europa e da América do Norte.

As cidades asiáticas variam muito mais. Os residentes de Hong Kong têm a maior pegada de carbono do mundo e são moderadamente vulneráveis. Mas Jacarta, uma metrópole com uma pegada mais baixa por pessoa, é extremamente vulnerável.

As cidades dessas regiões geraram emissões globais à medida que se industrializaram.

À medida que as cidades africanas crescem, as escolhas feitas agora vão afetar a sua vulnerabilidade - e as suas emissões.

Isso leva as autoridades a escolher, às vezes, entre a mitigação das alterações climáticas e o crescimento económico.

"Seriam necessárias grandes quantidades de energia para se desenvolverem e a maior parte viria de combustíveis fósseis", diz Precious Akanonu, investigador do Centro de Estudos das Economias de África. Quatro em cada dez africanos vivem com menos de 2 dólares por dia, segundo dados do Banco Mundial, e apenas metade dos africanos tiveram acesso à eletricidade em 2017, comparando com uma média global de 88% no mesmo ano. "Não acho apropriado negar aos países africanos o direito de se desenvolverem".

Os subsídios da comunidade internacional podem compensar os custos extras que a energia verde requer, diz Akanonu. "Sem o subsídio, se [os Governos africanos] investem numa fonte mais cara, isso rouba ao país o dinheiro que seria usado para outras necessidades de desenvolvimento".

Os países ricos prometeram aos mais pobres 100 mil milhões de dólares por ano em financiamento para o clima até 2020. Mas com divergências sobre o que conta como financiamento para adaptação - como a diferença entre doações, empréstimos e investimento privado - e inconsistências na declaração e rastreamento do dinheiro, os países recetores questionam se aquele recurso será suficiente.

"Os africanos devem ser apoiados para aproveitar os abundantes recursos de energia renovável que possuem", diz Nyongo, especialista em clima do Banco Africano de Desenvolvimento, "para que não voltemos ao tipo de paradigma de desenvolvimento - que os primeiro países desenvolvidos adotaram - que nos colocou nessa situação, através de emissões muito altas. Podemos fazê-lo de maneira diferente. Podemos fazê-lo melhor".

Os sobreviventes foram obrigados a reconstruir tudo depois de o ciclone Idai atingir Moçambique com ventos de quase 200 quilómetros por hora.

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Sul-africano reconstrói a sua casa após um incêndio em Masiphumelele, na Cidade do Cabo. Os bairros informais mais povoados são particularmente vulneráveis a desastres.

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Questionadas sobre se as cidades africanas estavam a fazer o suficiente para se adaptarem às alterações climáticas, a maioria das pessoas ouvidas pela DW disse que não. Cientistas, arquitetos e engenheiros africanos do clima disseram que alguns Governos municipais adotaram políticas de adaptação bem-sucedidas, mas o ritmo da mudança não foi rápido o suficiente - principalmente para proteger as pessoas mais vulneráveis das cidades.

"Em poucas palavras, o que está a funcionar bem é a sensibilização para as alterações climáticas", diz Martin Manuhwa, presidente da Federação das Organizações Africanas de Engenharia. "O que não está a funcionar bem são os projetos de infraestruturas resilientes ao clima".

"Há muita coisa a acontecer ao nível da comunidade que tem de chegar ao município para realmente ter um impacto", diz Ebenezer Amankwaa, investigador do Instituto Universitário de Recursos Naturais das Nações Unidas.

Entretanto, especialistas dizem também que África está numa boa posição em relação ao resto do mundo, porque grande parte da sua infraestrutura ainda não foi construída. "Podemos rapidamente aprender com os erros dos outros continentes e construir uma infraestrutura resiliente para o futuro", diz Manuhwa.

África é a única região do mundo onde o número de jovens está a aumentar e, até 2050, metade da população terá menos de 25 anos. Falando na Conferência do Clima de Copenhaga, Hilda Nakabuye, a ativista ugandesa, disse aos autarcas do mundo que a sua geração tem medo, mas também é ambiciosa, persistente e unida.

"Através de lutas e sacrifícios, seguimos em frente, porque este é o nosso futuro".

Metodologia

A metodologia, informações e fontes utilizadas para esta análise podem ser encontradas em www.github.com/dw-data/megacities

Créditos

Author: Ajit Niranjan

Edição: Tamsin Walker, Anja Kimmig

Edição de cópia: Nancy Isenson

Tradução: Thiago Melo

Pesquisa: Jennifer Collins, Maria Lesser, Kira Schacht, Tom Wills, Stephanie Wüst

Imagens: Goran Cutanoski, Kirsten Funck, Klaus Esterluß, Lars Jandel

Visualização: Gianna Grün, Simone Hüls, Benjamin Stöß

Webdesign: Gero Fallisch, Therese Giemza

Desenvolvimento: Olga Urusova-Maisels, Solvejg Plank, Olof Pock

Editora Executiva: Vanessa Fischer

Reportagem adicional: Ema Edosio Deelen em Lagos, Julius Mugambwa em Kampala, Sayed Torky no Cairo e Louise Osborne e True Vision Production em Dar es Salaam.